terça-feira, 22 de maio de 2012


Pe. Henri Boulad, SJ

A Igreja precisa de uma reforma urgente

O jesuíta egípcio mais destacado nos âmbitos eclesial e intelectual, Henri Boulad, lança um SOS para a Igreja de hoje em uma carta dirigida a Bento XVI. A carta foi transmitida através da Nunciatura no Cairo. O texto circula em meios eclesiais de todo o mundo. Henri Boulad é autor de Deus e o mistério do tempo (Loyola, 2006) e O homem diante da liberdade (Loyola, 1994), entre outros. A carta está publicada no sítio Religión Digital, 31-01-2010. A tradução é do Cepat.
Fonte: UNISINOS

Santo Padre:

Atrevo-me a dirigir-me diretamente a Você, pois meu coração sangra ao ver o abismo em que a nossa Igreja está se precipitando. Saberá desculpar a minha franqueza filial, inspirada simultaneamente pela “liberdade dos filhos de Deus” a que São Paulo nos convida e pelo amor apaixonado à Igreja.
Agradecer-lhe-ei também que saiba desculpar o tom alarmista desta carta, pois creio que “são menos cinco” e que a situação não pode esperar mais.
Permite-me, em primeiro lugar, apresentar-me. Sou jesuíta egípcio-libanês do rito melquita e logo farei 78 anos. Há três anos sou reitor do Colégio dos jesuítas no Cairo, após ter desempenhado os seguintes cargos: superior dos jesuítas em Alexandria, superior regional dos jesuítas do Egito, professor de Teologia no Cairo, diretor da Cáritas-Egito e vice-presidente da Cáritas Internacional para o Oriente Médio e a África do Norte.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Curso Bíblico - Evangelhos Sinóticos - 5

Evangelho de Marcos: O Autor e a Obra
Embora nas Bíblias impressas o Evangelho de Mateus seja sempre o primeiro, o Evangelho de Marcos, segundo a maioria dos pesquisadores, é o mais antigo dos textos e foi fonte para os outros evangelhos sinóticos. Por isso, vamos começar por ele o nosso estudo.
Marcos não foi um dos apóstolos chamados diretamente por Jesus, mas conforme testemunhos de escritos do Novo Testamento, foi muito atuante desde as primeiras comunidades, acompanhante de Barnabé, Paulo e Pedro, com quem conviveu em Roma e de quem se tornou interprete.
Depois da morte de Pedro, Marcos recolheu tudo o que podia se lembrar das pregações de Pedro compondo um livro escrito em grego popular provavelmente para a comunidade cristã em Roma, composta por pagãos convertidos ao cristianismo.
Por esse motivo Marcos procura explicar bem dados geográficos da Palestina e também costumes e hábitos do Judaísmo, além de palavras e expressões aramaicas, que são desconhecidas para os destinatários dos seus escritos.
O Evangelho de Marcos não é fruto de pesquisa, mas é a conservação da catequese de Pedro. Essa afirmação dos estudiosos tem por base os vários indícios encontrados no próprio texto.
No entanto, isso não significa que Marcos não tivesse outras fontes orais ou escritas. Ele não foi apenas um auxiliar de Pedro, mas foi um verdadeiro autor, compondo uma obra própria destinada a uma comunidade específica de fiéis seguidores de Cristo.
Destinatários do Evangelho
Muitos estudiosos situam a época dos escritos de Marcos entre a morte de Pedro (64 aC.) e a destruição do Templo (70 a.C), período da guerra entre Judeus e o império romano que vai pôr fim à independência dos Judeus e provocar a destruição de Jerusalém.
Os cristãos são duramente perseguidos. Na Palestina são expulsos das sinagogas, acusados de serem os responsáveis pela destruição do Templo, que acreditavam ter sido permitida por Deus por causa da infidelidade dos judeus que se converteram ao cristianismo.
Também são perseguidos pelos romanos por causa da ordem oficial de Nero, que culpou os cristãos pelo incêndio que ele próprio ateou em Roma, determinando a perseguição ao cristianismo.
A comunidade dos cristãos em Roma, com a morte de Pedro e de Paulo e diante de tantos conflitos, se vê mergulhada em incertezas como podemos conferir em Marcos 4,35-38.
Apesar de ser uma comunidade cheia de esperança na vinda do Reino de Deus, no capítulo 9, 1 podemos ver que pensavam que essa vinda aconteceria em breve e os libertaria de toda aflição.
Assim, deveriam estar prontos para esse dia, sem nenhum apego, decididos a deixar a família e tudo o que possuíssem (Mc 1,17; 2,14-15; 3,13; 6,8-9; 10,21).
Esse modo de ser e de pensar mostra que a comunidade ainda estava mergulhada na visão triunfalista da volta de Jesus, que os libertaria e lhes daria a merecida recompensa.
Eles não queriam saber do escândalo da cruz, do martírio (Mc 8,32), esperavam um Messias triunfal. Havia também conflitos internos de liderança, uma vez que os apóstolos e discípulos diretos de Jesus haviam morrido (Mc 9,34-37; 10,41)
Marcos aponta para a realidade da pregação e da ação de Jesus. É preciso buscar o sentido de sua missão, para que a comunidade o veja não como um rei poderoso. Cristo, segundo Marcos se revela como um Filho de Deus, com a tarefa de instaurar o Reino de Deus na história da humanidade.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Curso Bíblico à Distância - Evangelhos Sinóticos 4

ESPÍRITO DOS EVANGELHOS
Vamos entender bem o espírito dos evangelhos, porque eles foram escritos, quer dizer, sua finalidade. Cada um dos evangelistas tem uma intenção e muitas motivações para escrever sua obra.
A Igreja primitiva recolheu os livros que vinham dos apóstolos e que contêm o que eles receberam de Jesus. São esses que o magistério da Igreja reconhece como os únicos inspirados e nos apresenta como fundamento da nossa fé.
O Concílio Vaticano II nos diz que, em todas as suas fases, o Evangelho foi sempre uma “pregação”, sem a preocupação historiográfica dos historiadores, que querem apresentar um acontecimento a partir das provas que tem do mesmo.
O pregador apresenta fatos passados, mas trazendo um ensinamento que responde aos desafios e às questões da realidade vivida pela comunidade. Na pregação, os destinatários da mensagem são aqueles que a ouvem, em qualquer tempo e lugar.
Vamos ver agora um esquema que mostra bem a composição dos evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas:
Nesse esquema podemos ver que o Evangelho de Marcos foi escrito antes de Mateus e Lucas, e serviu de fonte para eles. Podemos ver também a relação entre os evangelhos de Mateus e Lucas e suas fontes.
O evangelho de Mateus possui 600 versículos paralelos ao evangelho de Marcos, 230 versículos provenientes da Fonte Q, e que são paralelos a Lucas, e 238 versículos de fonte própria.
O evangelho de Lucas possui 330 versículos paralelos a Marcos, 230 provenientes da fonte Q, que são paralelos a Mateus, e 589 versículos de Fonte Própria.
É devido a essa semelhança entre os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas que eles são denominados Evangelhos Sinóticos. A palavra “sinótico” vem do grego syn-ótikos, que significa “visão de conjunto”.
Os três evangelhos têm a mesma ordem de conteúdo, dividida em quatro partes:
Preparação para o ministério público de Jesus: Mc 1,1-13; Mt 3,1-4,11; Lc 3,1-4,13
Ministério de Jesus na Galiléia: Mc 1,14-9,50; Mt 4,12-18,35; Lc 4,14-9,50
Viagem de Jesus para Jerusalém: Mc 10,1-52; Mt 19,1-20,34; Lc 9,51-l8,43
Paixão, morte e ressurreição: Mc 11,1-1-i6,20; Mt 21,1-28,20; Lc 19,1-24,53
O Evangelho escrito por João, ao que tudo indica, não segue as mesmas fontes e nem o mesmo esquema, motivo pelo qual é estudado separadamente.

domingo, 3 de outubro de 2010

Curso Bíblico à Distância - Evangelhos Sinóticos - aula 3

Dando prosseguimento ao nosso Curso Bíblico sobre os EVANGELHOS SINÓTICOS, vamos dar continuidade à Introdução procurando explicar como os textos dos evangelhos foram compostos, isto é, como foram reunidos diferentes escritos sobre as atividades de Jesus que as comunidades conheciam.


AS COLEÇÕES DOS ESCRITOS DOS EVANGELHOS

Vamos entender como os textos foram compostos em forma de coleções, que podem ser divididas por sua forma peculiar de apresentar a mensagem e a ação de Jesus nos seus anos de vida pública.

No primeiro século da era cristã, depois da morte de Jesus, as novas comunidades que vão surgindo começam a se preocupar em escrever sobre o que lembravam da ação e dos ensinamentos de Jesus, que até esse momento era apenas transmitido de forma oral. Começa então a surgir algumas coleções de escritos:

  • Coleções de milagres (Mt 8-9; Mc 4,35-5,43) 
  • Coleção de parábolas (Mc 4)
  • Coleção de discussões de Jesus com grupos variados (Mc 2,1-37; 11,27-12,44) 
  • Coleções de palavras de Jesus (Mt 5-7; Jô 4-17)

Embora ao organizar as coleções não houvesse preocupação com sua cronologia, isto é, em apresentá-las na ordem temporal em que aconteceram, ao inseri-las nos textos evangélicos elas são apresentadas com outros textos, formando uma sequência que vai do início da missão de Jesus, até a sua morte e ressurreição. Assim, não podemos ler o Evangelho como se fosse uma história cronológica, onde as coisas aconteceram exatamente no tempo e da forma como são narradas.

Por volta dos anos 60 a 70 a maioria daqueles que conviveram com Jesus já havia morrido, a maioria martirizada, o que vai acelerar o processo de escrita e a organização desses textos.

O primeiro evangelho escrito de forma organizada foi escrito por Marcos, por volta dos anos 68 a 70. Depois dele surge o de Mateus e o de Lucas, escritos por volta da década de 80. Esses dois evangelistas conheceram o evangelho escrito por Marcos, e fizeram dele uma fonte importante, buscando compor seus evangelhos a partir dos escritos de Marcos.

Porém, o evangelho de Marcos não é a única fonte de reflexão. Tanto Mateus quanto Lucas têm outras fontes, coleções de escritos próprias e também uma outra fonte comum aos dois, chamada fonte Q – que é uma coleção denominada Quelle, que em alemão significa “fonte”, e que se perdeu ao longo do tempo.

Mas vejam bem, os evangelhos não são cópias de outros textos, mas são frutos da reflexão dos escritos, a partir da vida e dos desafios das comunidades que geram e também são as destinatárias dos evangelhos.

São reconhecidos como “Evangelho” apenas os quatro textos de origem apostólica, isto é, que apresentam a pregação dos apóstolos. Isso não significa que eles tenham sido os escritores, pois na cultura judaica era comum atribuir-se a pessoas destacadas da comunidade a autoria dos escritos.

Outros textos surgiram posteriormente, mas embora trouxessem o nome de evangelho e ostentassem o nome de um apóstolo como se fossem escritos por ele, não possuíam fundamento histórico, mostravam grande atração pela realização de milagres surpreendentes, até mesmo propondo ensinamentos cheios de mistério, diferente do que foi pregado pelos apóstolos. Esses textos foram denominados “Evangelhos apócrifos”, que significa “postos a parte”.

[Continua no próximo mês. Envie suas dúvidas para teologiasantana@gmail.com que responderei. Guarde os textos e no final terá uma apostila. As aulas anteriores você no Blog da Teo em Curso Bíblico – Sinóticos]

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dia das Eleições

Neste dia o Brasil todo se movimenta, principalmente porque aqui o voto é obrigatório, para eleger os nossos novos representantes, no Estado e no País. O voto deve tornar a Nação mais conforme com a vontade do Senhor, mais justa e fraterna.
O nosso voto deve ser mais ético. Mas o que entendemos com isto? Ele deve expressar, de forma esclarecida e consciente, a nossa cidadania, superando os desencantos com a política, elegendo pessoas comprometidas com o respeito à vida, à família e à dignidade humana.
Podemos colaborar na construção de um país melhor, mais coerente na administração de sua riqueza e de seus bens. Por isto é importante ir às urnas e votar com liberdade, como expressão de fé e cidadania, sabendo do resultado de tudo isto.
A escolha de bons candidatos é como a escolha do bem ou do mal. Isto significa que o voto tem uma dimensão de fé e de presença de Deus. O que está em jogo é a preocupação com o ser humano. Assim, não podemos dar crédito a pessoas hostis à dignidade das pessoas.
A hora é de colocar a confiança em Deus e agir com a força da fé. Muitos eleitos têm sido pessoas inúteis e até perniciosas para o Brasil. Agim com atitudes farisaicas, com aparência de ovelhas, mas com prática de lobos ferozes.
Quem não tem o coração disponível para Deus e para os princípios de sua Palavra, não é apto para representar autenticamente a população. Os seus objetivos, com facilidade, se tornam reducionistas, servindo a si mesmo e a seu grupo de interesse.
A fé e o voto são atitudes pessoais, com postura de liberdade. Aí se fundamentam os parâmetros da vida cristã e cidadã. Votar então com fé, sabendo que este é o caminho da autoridade credenciada e confirmada por Deus.
Não podemos abandonar nossas raízes cristãs nas horas decisivas da vida. Deus está sempre presente se estamos também com ele. É a fé que nos dá lucidez, olhos abertos, confiança e comprometimento com as necessidades do nosso povo.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto.